sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Anotações Insensatas.


Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais. Tentaria, então, com toda a delicadeza possível, sem decidir propriamente decidiu no meio da tarde — uma tarde morna demais, preguiçosa demais para conter esse verbo veemente: decidir. Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.
Só que, como de hábito, na cabeça (como que separada do mundo, movida por interiores taquicardias, adrenalinas, metabolismos) se passava uma coisa, e naquele ponto em que isso cruzava com o de fora, esse lugar onde habitamos outros, começava a região do incompreensível: Lá, onde qualquer delicadeza premeditada poderia soar estúpida como um seco: não. E soou, em plena mesa posta.
Tanto pasmo, depois. Sozinho no apartamento, domingo à noite. Todas as coisas quietas e limpas, o perfume adocicado das madressilvas roubadas e o bolo de chocolate intocado no refrigerador — até a televisão falar da explosão nuclear subterrânea. Então a suspeita bruta: não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós. Afirmou, depois acendeu o cigarro, reformulou, repetiu, acrescentou esta interrogação: não suportamos mesmo aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós? Não, não suportamos essa doçura.
Puro cérebro sem dor perdido nos labirintos daquilo que tinha acabado de acontecer. Dor branca, querendo primeiro compreender, antes de doer abolerada, a dor. Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos. Que talvez, pensava agora, nem tivessem sido tão paradisíacos assim.
Porque havia o sufocamento daquela espécie de patético simulacro de fantasia matrimonial provisória, a dificuldade de manter um clima feito linha esticada, segura para não arrebentar de súbito, precipitando o equilibrista no vazio mortal. Cheio de carinho, remexeu no doce, sem empurrar o prato. Preferia a fome: só isso. Pelo longo vício da própria fome — e seria um erro, porque saciar a fome poderia trazer, digamos, mais conforto? — ou de pura preguiça de ter que reformular-se inteiro para enfrentar o que chamam de amor, e de repente não tinha gosto?
De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação? Espera, vamos conversar, sugeriu sem muito empenho. Tarde demais, porta fechada. Sozinho enfim, podia remexer em discos e livros para decidir sem nenhuma preocupação de harmonia-com-o-gosto-alheio que sempre preferira um Morrison a Manuel Bandeira. Sid Vicious a Puccini. A mosca a Uma janela para o amor, sempre uma vodca a um copo de leite: metal drástico. Era desses caras de barba por fazer que sempre escolherão o risco, o perigo, a insensatez, a insegurança, o precário, a maldição, a noite — a Fome maiúscula. Não a mesa posta e farta, com pratos e panelas a serem lavados na pia cheia de graxa — mas um hambúrguer qualquer para você que escrevo. Mas os escritores são muito cruéis, você me ama pelo que me mata com coca-cola no boteco da esquina, e a vida acontecendo em volta, escrota e nua.
Não muito confuso, assim confrontado com sua explícita incapacidade de lidar com. A palavra não vinha. Podia fazer mil coisas a seguir. Mas dentro de qualquer ação, dentes arreganhados, restaria aquela sua profunda incapacidade de lidar com. Um instante antes de bater outra, colocar uma velha Billie Holiday e sentar na máquina para escrever, ainda pensou: gosto tanto de você, baby. Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada. (CFA)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mein lieber...


Eu não estou aqui para escrever nenhuma declaração de amor.


Acrescento também que não te mandarei mais emails, não telefonarei, não escreverei cartas, nem poemas, nem crônicas, nem textos babacas. Guardarei todos os presentes que você me deu, as cartas, os desenhos. Apagarei seus emails, seus recados, suas fotos, seu telefone. Deixarei de usar aquele tênis que você me deu. E se um dia se eu precisar de algo ou se eu simplesmente sentir saudade deste momento da minha vida eu olharei, mas agora não. Agora eu não consigo suportar qualquer coisa que lembre você, eu não gosto de ouvir sobre esse nosso passado. Foi real, teve muitas coisas boas e muitas ruins que marcaram profundamente e que me incomoda muito.
Embora eu esteja com essa preguiça toda eu ainda penso em você com carinho e tento levar as coisas como se tudo estivesse como antes. Como se nada tivesse acontecido. Sem essas brigas estúpidas, essas caras de merda, as arrogâncias... É meu amigo, as coisas andam bem complicadinhas, mas a gente agüenta, eu já passei por coisas piores e esse negocio de amor acaba fácil, não é estória não, quando as coisas chegam nesse ponto, acaba mesmo e a gente nem percebe. Eu sei o quanto você é forte e capaz de agüentar esse tranco, só espero que você não esteja se enganando por que ai seria bem pior. Só uma coisa meu bem, pense muito bem antes de falar as coisas, especialmente as que envolvem sentimentos. Tem gente que ainda os tem e sofre dependendo da situação.
Sempre te achei um pouco pessimista e redundante, você sempre ia pro pior lado da situação e por mais que o tempo passasse era sempre a mesma coisa, você sempre decidia a mesma coisa. Não que isso me incomode agora, sabe aquela velha frase “parta para outra”?, parti. Não era isso que nós precisávamos? Pois é. Acho que toda essa coisa de resolver uma situação, de ter uma conversa, só ferrou com a nossa vida. A situação toda estava bem diante do nosso nariz e só não enxergamos por que estávamos de olhos fechados fingindo ter algum sentimento. Mesmo assim ainda teremos aquela famosa conversa olhos nos olhos para fingir que vamos resolver alguma coisa. E vamos. Porque eu estou cansada de mais para tentar levar as coisas como se estivesse carregando um cachorro desorientado.
Ainda assim, como já citei não te desejo mal algum, pelo contrario. Desejo sorte, saúde, paz...blábláblá...aquelascoisastodas que você falou no meu aniversário. Afinal, ainda acho que você sempre foi o meu porto de chegada. E embora tudo tenha chegado onde chegou eu ainda tenho alguma admiração por você.





terça-feira, 24 de novembro de 2009

Silêncios.


"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."

domingo, 22 de novembro de 2009

Intensidade.


Cara, eu já me senti assim algumas vezes, mas nunca foi tão intenso.

sábado, 21 de novembro de 2009

Os dois mundos.


_O que é atrás daquelas cortinhas verdes?

_É onde acaba o seu mundo e onde começa o meu.

_Quer dizer que eu posso entrar no seu mundo e conhecer as maravilhas de lá?

_Pode, mas você não vai gostar.

_Por que não?

_Lá tem monstros.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Juntoseparados.


Deixe-me viver com minhas confusões que te deixo viver com a sua paz.

Enquanto esperava.


Nunca dei um passo que fosse o correcto,
Eu nunca fiz nada que batesse certo...
Enquanto esperava no fundo da rua...
Pensava em ti, e em que sorte era a tua...
Quero-te tanto.... Quero-te tanto....!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Remendos.


"Cachorro sem dono, contaminação. Sagüi no ombro, sarna. Até quando esses remendos inventados resistirão à peste que se infiltra pelos rombos do nosso encontro?"

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Confiança.


—Você confia em mim?

—Sim.

—Quanto você confia em mim?

—Bastante.

—Bastante? O suficiente pra acreditar que tudo que eu falei é a mais pura verdade?

—Não. O suficiente para ficar ao seu lado para sempre.








É... mas ele não confia.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Caminho.


"Às vezes o que parece um descaminho na verdade é um caminho inaparente que conduz a outro caminho melhor."

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Promete.


Então, você promete me amar mesmo quando eu estiver velha, quando eu acordar de mau humor, quando eu engordar dez quilos, quando eu chorar, quando eu precisar de um abraço, quando eu pintar o cabelo com cores exóticas, quando eu tirar o piercing do nariz, quando eu usar a blusa verde que você odeia, quando eu dormir no sofá, quando eu ler Carlos Drummond, quando eu esquecer a luz acesa, quando eu estiver triste, quando eu beber vodka, quando eu me queimar fritando batatas, quando eu dormir no meio do filme, quando eu segurar sua mão, quando estiver frio, quando eu não atender o celular, quando eu te odiar por alguns minutos, quando você me odiar por alguns minutos, quando eu comer queijo, quando eu estiver meio nazista, quando eu esquecer de fazer a lição, quando eu não jantar direito e passar mal, quando eu mexer no seu cabelo, quando eu fumar um cigarro, quando eu mentir, quando eu fizer bosta, quando eu me arrepender e voltar atrás, quando eu te pedir um abraço, quando eu tomar suco de acerola, de uva, de limão, de abacaxi, quando eu tomar café, quando eu derrubar o sorvete, quando eu te deixar nervoso, quando eu quebrar alguma coisa, quando eu me machucar, quando eu estiver rindo, quando você contar piadas bobas, quando eu ouvir sua voz, quando eu estiver longe, quando eu estiver perto, quando eu comprar roupas novas, quando eu acordar pela manhã, quando eu estiver no ônibus, no trabalho, na escola, quando eu tocar sua campainha, quando eu estiver com o cabelo bagunçado, quando eu estiver suja, quando eu escrever poesia, quando você me mandar flores, quando eu fizer origami, quando conhecer a minha família, quando você acender um insenso, quando eu comer doce e ficar com a mão melecada, quando eu for para Dubaí, Buenos Aires, Portugal, quando eu ouvir Pink Floyd, Beatles, Sex Pistols, quando eu cantar Madonna, quando eu estiver contente, quando eu rir de tudo, quando eu estiver com raiva do mundo, quando eu te tratar mal, quando eu passar muito perfume, quando eu não ligar para dar boa noite, quando eu te mandar emails durante o expediente, quando eu rolar na grama, quando eu for até o centro da cidade, quando eu te der um beijo no rosto, quando eu estiver com sono, quando eu estiver com fome, quando eu pintar um quadro, quando eu tirar fotos, quando eu estiver na internet, quando eu pegar transito, quando eu me atrasar, quando eu usar sua blusa, quando eu falar coisas toscas, quando eu sentir vergonha, quando eu falar da minha vida, quando eu mostrar minhas fotos, quando eu brincar com meus cachorros, quando eu...?