quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Dá-me a tua mão.

Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A solidão de não pertencer.

Não sei o que tem acontecido comigo. Ou talvez eu saiba, mas não queira admitir. O que está acontecendo é que eu estou barrando em mim o que me aliviava. Sinto que não consigo mais escrever.
Não é bem por falta do que falar, eu continuo um redemoinho de pensamentos. Eles é que estão revoltados: simplesmente não saem. Acho que é excesso. Acho que estou sentindo demais. Talvez por isso eu não saiba nem mais por onde começar...
É, é excesso. Excesso de tudo: de alegria e de tristeza e de dor e de vontades e de amor e de sonhos e de decepções e de saudades e de vida! Tudo no superlativo, tudo ao mesmo tempo agora!
Estou me sentindo quase uma Clarice (a outra, aquela de quem eu já falei): perdi o jeito de ser gente, não sei mais como se é.
Vou, antes que comece a pular de um assunto ao outro com a mesma facilidade que minha mente age. E então ninguém vai entender mais nada...

Pertencer.

Não!!! Meu coração não é de gelo. Talvez eu queira pertencer à alguém. Ou não... E exatamente por isso, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso. Isso me faz às vezes sozinha. Sozinha, mas suficiente. Eu me basto na maioria das vezes. Mas será que eu preciso de mais do que isso?
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de doar-me verdadeiramente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir e cercar meu coração num muro gigantesco. Não suporto a idéia de pertence à alguém ou a algum sentimento.
É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o!
Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos para dar a alguém.
Pertencer pode não ser tão ruim assim. Não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho! Pois escolhi não mais pertencer.